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O verdadeiro Pai

Aconteceu no domingo antes desse Natal de 2014, lá pelo meio dia.Estava indo de carro para o supermercado, lógico para as compras da ceia , quando avisto na calçada do canal 5 , algumas pessoas ao redor de uma pessoa caída.Dei a volta com o carro

Aconteceu no domingo antes desse Natal de 2014, lá pelo meio dia.Estava indo de carro para o supermercado, lógico para as compras da ceia , quando avisto na calçada do canal 5 , algumas pessoas ao redor de uma pessoa caída.Dei a volta com o carro e fui até o local.Lá se encontravam um casal bem jovem e uma mulher com seus 45 anos...Parados, olhando para um morador de rua estendido no chão. O calor era bem grande e julguei que esse senhor (que aparentava uns 65 anos) estivesse passando mal.Acompanhando esse senhor estava outro morador de rua...Coloquei-me à disposição para levá-lo ao Pronto Socorro e pedi  para alguém vir comigo , para se responsabilizar também...Sim , confesso que fiquei temerosa que esse senhor morresse dentro do meu carro e eu não ter testemunha ao dar entrada no Pronto Socorro de que como teria morrido...
Qual não foi minha surpresa quando o rapaz ,parecendo sair de uma catatonia, diz baixinho: " Eu sou o responsável".
Olhei surpresa e ele diz olhando fixo para mim:" Sim, ele é meu pai.Estava o procurando por 6 anos e olhe a situação que eu o encontro..." Depois de alguns segundos registrando a mensagem, eu peço para ele e o outro morador de rua ajudarem a colocar no meu carro.O rapaz o colocou atrás e foi comigo na frente. A jovem era esposa do filho e a mulher de 45 anos era a tia, cunhada do senhor.Seguiram meu carro, pois vieram de Santo André e não conheciam nada por aqui.
No caminho , o filho disse ter tentado de uma última vez levá-lo para Santo André para tratamento e ele se recusou. Tema esse que permeou a conversa entre os dois.O filho voltava a cabeça constantemente para trás, dizendo toda hora:" né, pai? Eu quis levar você, né?... Por que você insiste nessa vida? etc... E o pai, horas respondia , outras ficava quieto.Numa determinada hora eu disse ao senhor que o filho estava bastante preocupado, que ele tinha netos,que não era justo essa relutância ao tratamento,etc...E que com 48 anos tinha muito pela frente.Sim, 48 anos, pasmem!!! 
Nesse momento , o filho me interrompe e diz: " Senhora, ele é um homem trabalhador,foi um bom pai e um bom marido,mas tomou um caminho errado...Pai, mas você vai voltar, né, pai?" Perguntava ele com anseio, com esperança...
Enquanto eles falavam , eu pensava que aquela catatonia do filho de 25 anos , olhando o pai caído na calçada e seus  incessantes "NÉ", eram sinais evidentes do respeito ao pai e consequente à hierarquia outrora estabelecida.Era como se estivesse ainda pedindo a autorização do próprio Pai para poder levá-lo ou pedindo sua  benção ! Não tive dúvidas de que ele fora um bom pai, principalmente pelo carinho que segurou o pai até a porta do Pronto Socorro! O translado termina, mas minha cabeça ficou povoada de pensamentos e meu corpo de diversas sensações! As prateleiras do supermercados ficaram distantes e os ingredientes da ceia pequenos! Maria Stella Cabaz Tavares, 02/01/2015

Isadora Wednesday, 23 de August de 2017

Minha amiga Stella. Logo nas primeiras linhas, eu tive a plena convicção de que você o levaria ao Pronto Socorro. É por isso, e mais tantos "issos", que somos amigas. Sua história transformou-se em um "auto de natal". Que filho de Deus esse filho desse pai não? Não desaprendeu o respeito! Entre tantos filhos que não assumem seus pais, esse moço nos presenteia infinitamente, com uma responsabilidade e esperança gigantes. Em vez da cruz,a calçada,o que nesse calor, não deixa de ser uma baita cruz também...Que bonito amiga. Foi muito bom ler e saber que você deu a volta com o carro. Essa volta, terá volta,quando chegar a hora da sua volta. E já me pego aqui rogando, quase implorando, ao velho pai: VOLTA...VOLTA...

Maria do Carmo Thursday, 24 de August de 2017

Talvez eu tenha sido a primeira a saber dessa história. Não me surpreendo com iniciativas como essa da Maria Stella, esse foi sempre seu lema, "ajudar alguém sem olhar a quem", me surpreendeu sim, o olhar desse filho que poderia estar passeando na praia com sua esposa e seu filhinho, que com certeza não precisou de seu pai para chegar onde está, mas tem para com ele o respeito e o amor que farão com que retorne para o convívio da família. Parabéns Stella, suas palavras e seu gesto ficarão na memória dessa família. Os atos mais do que as palavras, são o verdadeiro registro da caridade humana.

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